Fé e Política no Brasil: Deus e a Pátria

“O Brasil é a pátria de chuteiras”, durante muito tempo pensei e até assegurava que não haveria uma frase nova tão desprovida de qualquer censo que se compararia a esta para categorizar nosso país, pois estava inegavelmente equivocado, surgiu uma que soma o reducionismo da primeira com irrelevância e despropósito, “O Brasil é do Senhor Jesus”.
O que se busca legitimar com esta frase é sobre a maneira como as igrejas evangélicas e seus membros majoritariamente em exercício de mandato fazem política. A igreja com o objetivo de aumentar e consolidar sua influência, garantir seus bens e preservar suas estruturas usa de estratégias, faz acordos político-ideológicos, mercantiliza os votos de fiéis, entra no jogo sedutor da busca do poder pelo poder e tudo feito “evangelicamente” para dar significado, através de uma hermenêutica empobrecida, a sua presença de sal da terra e luz do mundo.

Deve-se também destacar a forma como são escolhidos os candidatos e as legendas partidárias, exatamente nesta ordem, no primeiro plano quem e em segundo, sem nenhuma importância, com quais idéias e sempre por imposição sem debate democrático. A conseqüência da ausência de critério ideológico e programático e do autoritarismo é que posteriormente os mandatários eleitos exercem seus mandatos, de maneira irrelevante a grandes temas sociais, políticos e econômicos.

Previsivelmente a atual Frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional diante de denuncias sérias a um integrante do alto escalão do Governo Federal negociou seu silencio “evangelicamente” em nome da família e dos bons costumes, como se a ética pudesse ter dois lados, um moral e outro pratico.
A questão não é de posicionamento diante de um tema que conflita com a fé, mas das exigências éticas que a fé faz diante das tomadas de posição. Não ignoro a necessidade de militância política e social, muito menos do legitimo direito de exercer cidadania através do processo eleitoral, votando e sendo votado, penso, entretanto que o principio norteador não é “O Brasil é do Senhor Jesus”, mas nossa missão de agentes transformadores do Reino de Deus, isto é, movido pela ética, justiça e solidariedade.